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Sara Paiva - Professora e investigadora nas áreas de Mobilidade Urbana e Smart Cities

Sara Paiva

Professora e investigadora nas áreas de Mobilidade Urbana e Smart Cities

Sara Paiva é professora adjunta do Instituto Politécnico de Viana do Castelo, é doutorada em Engenharia Informática pela Universidade de Vigo e é investigadora de pós-doutoramento na Universidade de Oviedo. A sua principal linha de investigação é a área da Mobilidade Inteligente e Smart Cities, com foco em soluções de mobilidade inclusiva.

Sara Paiva é também IEEE Senior Member, Voluntária na IEEE Smart Cities Community e Membro do Comité Editorial do IEEE P2784 Smart City Planning and Technology Standard. Além disso, é editora-chefe da EAI Endorsed Transaction on Smart Cities, editora associada de vários jornais indexados e actuou como Chair da International Convention on Smart Cities 360º em 2020.

Editora de livros, autora e co-autora de várias publicações científicas, Sara Paiva é a convidada especial da série Connecting Stories da PARTTEAM & OEMKIOSKS.

1. Como professora e investigadora nas áreas de Mobilidade Urbana e Smart Cities, pode falar-nos sobre a sua jornada e sobre a sua experiência profissional?

Iniciei o meu percurso como docente da Escola Superior de Tecnologia e Gestão (ESTG) do Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC) em 2005, depois de ter exercido actividades como consultora informática na WeDo Technologies, onde ingressei após terminar a minha licenciatura em Engenharia de Sistemas e Informática, na Universidade do Minho, em 2002.

Desde que ingressei na ESTG fiquei responsável por unidades curriculares na área da computação móvel, que viria a definir o tipo de soluções onde ainda hoje mais trabalho, actualmente aplicadas, na sua maioria, à área da mobilidade urbana.

Sara Paiva - Professora e investigadora nas áreas de Mobilidade Urbana e Smart Cities - Connecting Stories PARTTEAM & OEMKIOSKS

O foco na mobilidade inclusiva surgiu há aproximadamente três anos, quando iniciei o meu trabalho com a ACAPO (Associação de Cegos e Amblíopes) de Viana do Castelo e onde iniciei um conjunto de projectos com vista a promover a autonomia e a independência do dia-a-dia dos seus utentes, com recurso a soluções tecnológicas – mais concretamente aplicações móveis. Estas soluções focam-se, essencialmente, na utilização de transportes públicos, assim como na navegação pedestre na cidade.

A temática das Smart Cities acaba por estar intrinsecamente ligada, pois as soluções de mobilidade que temos vindo a desenvolver estão enquadradas e partem do pressuposto da evolução que necessariamente veremos surgir nas cidades como aspectos de sensorização, por exemplo, e que suportam (e suportarão) cada vez mais as soluções tecnológicas de mobilidade urbana do futuro.

Recentemente, sou também voluntária na comunidade IEEE Smart Cities, uma entidade científica internacionalmente reconhecida, que trabalha normas reguladoras das cidades inteligentes, bem como a promoção de diversos eventos científicos nestas temáticas. Recebi com agrado o convite para ser Co-Chair do Comité de Marketing e Comunicação da IEEE Smart Cities, onde assumirei também responsabilidade na comunicação da IEEE Smart Cities com a academia.

2. Como crê que tem evoluído o planeamento da mobilidade nas cidades portuguesas?

Sou de opinião que estamos a desenvolver um caminho francamente positivo, que perspectiva evoluções muito significativas nos próximos anos. Há várias cidades sinalizadas em Portugal pelos esforços feitos no sentido das cidades inteligentes e mobilidade. Apenas para dar alguns exemplos, o Aveiro Steam City candidatou-se à iniciativa da União Europeia Urban Innovative Actions (UIA) para permitir a implementação de uma infra-estrutura 5G de fibra e sensores para alavancar novas investigações, nomeadamente ao nível da mobilidade, com sensorização nos transportes públicos que permitirão aferir hábitos da população. No Instituto Politécnico de Viana do Castelo e em Leiria, o projecto inovador U-Bike coloca bicicletas à disposição da comunidade académica para promover a mobilidade activa. Ainda em Leiria, o projecto UrbSecurity visa uma reflexão sobre o crescimento sustentável ao nível da mobilidade. Viseu apresentou o projecto “Viriato” – transporte público eléctrico não tripulado – e pretende desenvolver uma rede de transportes suportada por sensorização, assim como um sistema de transportes on-demand. Torres Vedras tem também feito uma aposta ao nível da fiscalização do estacionamento automóvel, disponibilizando também bicicletas aos cidadãos.

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Descrição: Na cerimónia do Prémio de Voluntariado Universitário do Santander Totta - 2017

Por ser a cidade onde vivo e que, por isso, melhor conheço, destaco os esforços e a vontade da Câmara Municipal de Viana do Castelo, que se encontra a desenvolver um conjunto de aplicações móveis para apoiar os cidadãos na sua mobilidade, quer ao nível da utilização dos transportes públicos, quer na exploração pedestre do centro histórico – pensada para os cidadãos vianenses e para os turistas. O objectivo é disponibilizar informações relevantes nestas vertentes, tendo sempre em conta uma mobilidade para todos, que inclui o segmento das pessoas com limitações de mobilidade temporária ou permanente.

Conhecendo as opções de transportes e de mobilidade ao seu dispor e em tempo real, os cidadãos conseguirão tomar decisões mais fundamentadas de como se vão deslocar.

3. Quais são os benefícios que advêm de uma mobilidade bem planeada?

Acima de tudo, diria, na crescente facilidade para os cidadãos no que diz respeito ao planeamento e gestão do seu dia e na consequência que isso trará para as cidades em termos de sustentabilidade.

Conhecendo as opções de transportes e de mobilidade ao seu dispor e em tempo real – com recurso às novas tecnologias –, os cidadãos conseguirão tomar decisões mais fundamentadas de como se vão deslocar quer no interior das cidades, quer para as suas periferias. A crescente eficiência da rede de transportes e as soluções tecnológicas que possibilitam que a informação chegue aos cidadãos em tempo real criarão condições para que a utilização de transportes aumente, reduzindo os veículos próprios e contribuindo para a redução da pegada ecológica – que constitui um dos grandes desafios actuais. O planeamento de sistemas de mobilidade poderá começar a criar infraestruturas de mobilidade como um serviço (Mobility-as-a-Service – MaaS), que será uma mudança de paradigma na forma como encaramos a mobilidade.

4. A edição deste ano da Semana Europeia da Mobilidade teve como tema principal “Emissões Zero, Mobilidade para todos”. De que forma podemos pôr em prática este objectivo?

Esta questão está intrinsecamente ligada à necessária redução da utilização dos veículos próprios. Tal será possível com redes de transportes mais eficientes, com a promoção de formas de transporte activas e com novos serviços que começarão a emergir como car-sharing e outros dentro do já anteriormente referido conceito de MaaS.

Os sistemas de mobilidade devem ser pensados para todos os cidadãos, onde se incluem pessoas com mobilidade condicionada de forma permanente ou temporária.

5. A sua principal linha de pesquisa é mobilidade inteligente e Smart Cities, com foco em soluções de mobilidade inclusiva para pessoas com deficiência visual. Pode falar-nos de algumas destas soluções e da sua importância?

Os sistemas de mobilidade devem ser pensados, cada vez mais, de forma holística, para todos os cidadãos, onde se incluem pessoas com mobilidade condicionada de forma permanente ou temporária. Poderemos incluir aqui pessoas cegas e amblíopes, pessoas autistas, pessoas surdas, pessoas em cadeiras de rodas, grávidas ou adultos com crianças de colo.

Tenho estado associada ao desenvolvimento de soluções de mobilidade para estes públicos, juntamente com a Câmara Municipal de Viana do Castelo, que abarca os vários segmentos acima referidos e não só as pessoas cegas e amblíopes – embora este segmento tenha desafios muito específicos. Posso referir, a título de exemplo, para o segmento de pessoas cegas e amblíopes, o cuidado que deve haver em existirem locais fixos para que possam apanhar autocarros urbanos, na informação que lhes deve ser dada ao longo do percurso de utilização dos transportes públicos, de forma a que possam sair dos mesmos autonomamente sem terem de recorrer a terceiros. No que se refere à navegação pedestre, as soluções tecnológicas que permitam informar do seu posicionamento quando se perdem assumem uma especial importância e necessidade. A informação sobre a adequabilidade dos espaços e a melhor rota para chegarem até esses espaços é outra vertente a ter em conta. Nos centros das cidades, onde se localizam muitas vezes serviços públicos relevantes (como finanças, câmaras municipais, serviços de transportes, entre outros), é útil haver uma caracterização das ruas em termos da sua adequabilidade a cada um dos segmentos. Há necessidades muito específicas. Por exemplo, pessoas autistas preferem, sempre que possível, evitar ruas com barulhos altos; pessoas em cadeiras de rodas devem ser direccionadas por ruas largas; pessoas cegas e amblíopes devem evitar ruas onde se desloquem veículos de emergência, entre muitas outras particularidades. São apenas algumas das situações que devem ser tidas em conta e que devem ser abordadas se existir articulação entre as instituições que representam cada um destes segmentos e as câmaras municipais. A minha experiência advém de uma cidade relativamente pequena e aspectos de escalabilidade devem ser tidos em conta quando lidamos com cidades de maior dimensão.

A minha experiência advém de uma cidade relativamente pequena e aspectos de escalabilidade devem ser tidos em conta quando lidamos com cidades de maior dimensão.

6. Relativamente às Smart Cities, como é que estas podem melhorar a qualidade de vida da população?

As Smart Cities aparecem hoje associadas a conceitos como Internet of Things (IoT), Big Data, Artificial Intelligence (AI), entre outros. A crescente criação de infraestruturas de sensores nas cidades e a sua incorporação nas “coisas” (casas, carros, postes de iluminação, lojas, etc.) permitirão uma posterior integração destes dados, criando grandes volumes de informação. O seu processamento permitirá aferir hábitos de consumo, de mobilidade, de consumos energéticos, de preferências alimentares, entre tantos outros aspectos. Conhecer estes padrões é decisivo para que sistemas de recomendação actuem na sugestão personalizada a cada cidadão para melhorar a sua qualidade de vida – na medida do que for mais importante para cada um.

Sara Paiva - Professora e investigadora nas áreas de Mobilidade Urbana e Smart Cities - Connecting Stories PARTTEAM & OEMKIOSKS
Descrição: Como coordenadora do Projeto Escola Inclusiva ESTGIPVC, vencedor do Prémio Voluntariado Santander Totta 2017

Será possível também, a partir do momento em que os dados forem diariamente recolhidos de inúmeras fontes, a disponibilização de serviços aos cidadãos, em tempo real, via aplicações móveis, aplicações web ou smartwatches.

7. Que relação existe (ou deve existir) entre uma Smart City e o desenvolvimento sustentável?

As Nações Unidas, em 1987, definiram o desenvolvimento sustentável como “o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir as suas próprias necessidades”. De igual forma, foi proposta a Tríade da Sustentabilidade assente num ambiente responsável, economicamente eficaz e na componente socialmente equitativa. As cidades inteligentes, com a infraestrutura que pressupõem e com os emergentes conceitos que permitem a monitorização, processamento e tomada de decisões, tornarão possível agir nas três dimensões desta tríade, com vista a um desenvolvimento cada vez mais sustentável das cidades.

8. Como crê que serão as cidades do futuro?

Na sequência da resposta anterior, quero crer que desenvolverão modelos de sustentabilidade capazes de criar as melhores condições para as próximas gerações.

Quero crer que farão o melhor uso da tecnologia, que evolui exponencialmente a cada ano, e que o farão com bom senso e responsabilidade, de forma a que sirva o propósito final de ajudar o ser humano a ter melhores condições de vida e a garantir um futuro promissor para as próximas gerações.

9. Com vários artigos e livros publicados, que mensagens pretende transmitir?

Os livros que edito e artigos que escrevo pretendem dar a conhecer a toda a comunidade científica, empresas e interessados nas temáticas da mobilidade urbana, mobilidade inclusiva e cidades inteligentes em geral quais as potencialidades que as soluções tecnológicas podem desempenhar; casos de estudo nos quais estou envolvida; e também uma reflexão sobre as principais oportunidades e desafios que se colocam, bem como alguns apontamentos sobre direcções futuras expectáveis nestas áreas.

O digital tornar-se-á, em muitos cenários, e a curto-médio prazo, o novo presente.

10. Sendo a PARTTEAM & OEMKIOSKS uma empresa que tem a possibilidade de produzir mupis digitais, quiosques multimédia e outras soluções tecnológicas para cidades inteligentes e para a área dos transportes, que relevância tem, na sua opinião, o digital na mobilidade urbana sustentável?

​O digital fará cada vez mais parte das soluções tecnológicas que os próximos anos trarão, onde se incluem também aquelas orientadas para a mobilidade urbana sustentável.

Estou convicta que teremos todos de abraçar estas novas tendências, pois a sua mais-valia é enorme, nomeadamente ao nível de informações em tempo real, que será possível fazer chegar aos cidadãos e à integração crescente com dispositivos como wearables.

O digital tornar-se-á, em muitos cenários, e a curto-médio prazo, o novo presente. É interessante também realçar que, mesmo ao nível da mobilidade inclusiva, a aceitação do digital por parte das pessoas cegas e amblíopes acontece de forma muito positiva e numa grande percentagem.

Connecting Stories é um espaço editorial conduzido pela PARTTEAM & OEMKIOSKS que consiste na realização de entrevistas exclusivas, direccionadas a personalidades influentes, que actuam em diferentes sectores de actividade.

O projecto, idealizado pela PARTTEAM & OEMKIOSKS, contempla a publicação de histórias de sucesso, por meio de pequenas entrevistas a influenciadores que queiram compartilhar detalhes sobre os seus projectos, opiniões, planos para o futuro, entre outros assuntos.

A ideia é conectar histórias, partilhar conhecimento, desenvolver networking e gerar conteúdos que possam fornecer novas visões, oportunidades e ideias.

Sobre a PARTTEAM & OEMKIOSKS

Fundada em 2000, a PARTTEAM & OEMKIOSKS é uma empresa portuguesa de TI mundialmente reconhecida, fabricante de quiosques multimédia de interior e exterior, equipamentos self-service, mupis digitais, mesas interactivas e outras soluções digitais, para todos os tipos de sectores e indústrias. Para saber mais acerca da nossa história, clique aqui.

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