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Paula Palermo - Analista de Investimentos em Smart Cities

Paula Palermo

Analista de Investimentos em Smart Cities

Paula Palermo é, atualmente, analista de investimentos em Smart Cities na Plug and Play Tech Center, empresa com sede Sunnyvale, Califórnia, EUA, cujo principal objetivo é catalisar o avanço tecnológico.

Além disso, atua em projetos de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento com enfoque em cidades.

Formada em Arquitetura e Planeamento Urbano e em Economia, Paula Palermo é uma das convidadas especiais na Connecting Stories da PARTTEAM & OEMKIOSKS.

1. Pode falar-nos sobre a sua jornada e sobre a sua experiência profissional, bem como das funções que desempenha actualmente?

Sou natural de São Paulo e foi aí que desenvolvi a formação crítica. Iniciei a minha carreira profissional a colaborar para projetos sociais, de pesquisa e de planeamento urbano enquanto concluía a minha educação, não tão tradicional.

Optei por um caminho mais longo que o normal quando decidi formar-me em duas faculdades ao mesmo tempo, cruzando áreas, temas e abordagens para olhar para um tópico muito complexo e cheio de cooperações dentro das mais diversas áreas de conhecimento: as cidades.

Tanto no percurso de Arquitetura e Urbanismo, como no de Economia, os meus primeiros contactos com a prática foram junto de movimentos sociais, o que foi fundamental para entender como poderia aplicar os meus conhecimentos na resolução de problemas reais. Sempre tive paixão pela conexão de ideias e culturas e por aquilo que diferentes experiências nos podem mostrar em projetos interessantes e nas formas de solucionar problemas complexos.

No ano de 2018, concluí a minha formação, tendo a possibilidade de representar a Escola da Cidade Faculdade de Arquitetura e Urbanismo no fórum de Desenvolvimento Sustentável da sede regional da ONU na América Latina, junto a organizações sociais, governos e órgãos de cooperação internacional.

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Descrição: Aluna oradora na cerimónia de encerramento do curso, que concretiza anualmente a parceria do Banco Santander com a Universidade de Georgetown para impulsionar a economia social.

Além disso, concluí recentemente uma experiência muito interessante como Research Fellow para a ONG New Story, em que desenvolvemos possibilidades de inclusão financeira relacionada com habitação social no México. Aí conectei-me com muitas pessoas que tinham interesses similares e a mesma abordagem multidisciplinar, que muito favorecem políticas públicas sociais eficazes para a América Latina.

Agora faço parte da equipa de Cidades Inteligentes da Plug and Play, uma plataforma de inovação que investe em startups e auxilia corporações nos seus desafios de inovação em diversos setores. Trabalho com um grupo incrível formado por profissionais de diversas áreas, onde procuramos potencializar abordagens disruptivas para as cidades nas áreas de Mobilidade, Energia, Imobiliário, Construção e Internet das Coisas. Apostamos em projetos que possam mudar a sociedade em que vivemos através da Tecnologia e da Inovação, o que acreditamos ser uma das principais chaves para um futuro inclusivo e sustentável. Aprendi o quão importante é ter alternativas de financiamento para que projetos possam sair do papel. E trabalhar com startups é trabalhar com o futuro.

Planear cidades é pensar no passado, no presente e também no futuro.

2. Como surgiu o interesse pelo estudo do planeamento urbano?

Sempre fui uma pessoa inquieta com os temas sociais e as desigualdades do mundo. Desde pequena que me questionava por que é que, ao mesmo tempo, vemos tanto desenvolvimento e presenciamos tanta miséria. Comecei a perceber que as cidades concentravam muitas dessas questões e, em simultâneo, apresentavam muitas oportunidades de desenvolvimento.

Vejo o mundo construído como um espelho da forma como nos relacionamos, pelo que mudanças sociais, organizacionais e físicas nas nossas cidades, podem ser uma chave concreta para a solução desses temas.

Planear cidades é pensar no passado, no presente e também no futuro. A pandemia ressaltou o pior que poderíamos esperar de serviços públicos não preparados e a falta de acesso aos serviços básicos como saneamento, habitação e saúde. Casos históricos como esses abrem-nos os olhos para a forma como nos organizamos social e espacialmente, mostrando os principais problemas, mas também possíveis soluções.

3. E pelas Smart Cities?

Os mundos da inovação e da tecnologia são muito curiosos. Ao procurar soluções para as cidades é difícil não me interessar por aquelas que, através da tecnologia, apresentam inúmeras possibilidades de melhorar os serviços e ampliar o acesso. Ao mesmo tempo, tais soluções demonstram muitas contradições, como as questões relacionadas com a privacidade, o controlo e a falta de acesso a serviços digitais em muitas regiões do mundo, principalmente as que estão a Sul do Equador, onde a conectividade e as promessas das Cidades Inteligentes não se aplicam para todos da mesma forma.

Foi aí que surgiu o meu interesse, nomeadamente pelo grande desafio apresentado para poder mudar a realidade: não somente instalar dispositivos e sensores, mas vendo a tecnologia e a inovação como ferramentas para potencializar serviços e melhorias na qualidade de vida da população de forma exponencial.

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Descrição: Segunda reunião para a revisão dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU para a América Latina e Caraíbas, na sede da CEPAL em Santiago, Chile.

As cidades podem ser inteligentes de muitas maneiras, pelo que não vejo muito sentido em ver a tecnologia como uma finalidade, mas como um meio. Complementa, dá acesso e escala para resolver problemas que realmente importam, que são aqueles relacionados com o modo como vivemos, como nos movemos, como interagimos com as pessoas e com o meio ambiente ao nosso redor.

O conceito de Smart Cities em si foca-se bastante no uso de aparelhos eletrónicos e da conectividade para promover serviços, assim como para gerar inteligência a partir de dados, o que nos pode ajudar a otimizar as necessidades básicas da população. Esta inteligência não se baseia apenas em objetos e informações, mas tem um importante componente, que é a inovação social, possível através da conexão entre as tecnologias e a forma como interagimos e resolvemos os principais problemas das nossas cidades.

4. É formada em Arquitectura e Planeamento Urbano e em Economia. O que a levou a estudar estas duas áreas? O que têm em comum?

Entrei na Faculdade de Economia pois tinha curiosidade para saber a origem dessas desigualdades e vi que, da mesma forma que a economia era a raiz de muitos desses problemas, podemos também, através dela, construir soluções. Tive que traçar o meu próprio caminho para poder discutir estes temas, tanto na academia, como na vida prática, pelo que decidi formar-me, ao mesmo tempo, em Arquitetura e Urbanismo. A combinação de soluções de desenvolvimento social com o planeamento de espaços físicos sempre me chamou a atenção. No final, todas as propostas de alteração de estruturas que conhecemos passam por discussões económicas e é muito importante levá-las em consideração para o sucesso da aplicação de qualquer projeto de arquitetura ou urbanismo, pois dependerão desses fatores para a sua viabilidade de curto e longo prazo.

Através de uma bolsa de estudos do Banco Santander, participei num curso executivo na Escola de Negócios de Georgetown, onde era a única arquiteta e urbanista. Por isso, pude contribuir com debates relacionados com Inovação Social e Inclusão Financeira a partir de uma outra perspetiva. Defendo a multidisciplinaridade e acredito que todas as áreas podem ter algo em comum. Agregando diferentes ideias e visões, podemos chegar a resultados mais produtivos e coerentes.

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Descrição: Encerramento do curso de Educação Executiva fornecido pelo Banco Santander e pela Georgetown University no tema de Economia Social.

5. De que forma é que uma empresa pode contribuir para o desenvolvimento das Smart Cities?

As empresas possuem um papel fundamental na transformação digital das cidades e eu lido muito com esse tema no meu dia-a-dia. Vejo, todos os dias, novas soluções vindas de pequenas e iniciantes empresas de inovação que possuem uma visão diferente do mundo e a colocam em prática. É um ecossistema, onde muitos compõem um todo, desde governos a empresas, universidades e a sociedade civil em geral.

Lembro-me das discussões do curso de Economia sobre os limites do setor privado em fornecer necessidades básicas com a lógica empresarial de menos custo e mais retorno. Estes limites providenciam à população acesso às necessidades básicas, mesmo se não for economicamente viável, como habitação, água potável, educação, serviços de saúde e a proteção do meio ambiente.

Estes são temas fundamentais para a sociedade e podem ser resolvidos pela sociedade em conjunto, através de novos modelos de negócio que incluam essas perspectivas com o uso da tecnologia. Cada vez mais, as empresas precisam de estar alinhadas com valores sociais e ambientais, reconhecendo que as soluções que respondem criativamente às questões cruciais da sociedade serão duradouras e eficazes a longo prazo.

6. Como é que o planeamento urbano e as Smart Cities podem melhorar a qualidade de vida da população?

A pandemia atinge as pessoas de diferentes maneiras. Se olharmos para as cidades, elas mostram-nos exatamente a ausência de qualidade de vida para muitos. O isolamento não aconteceu para todos da mesma forma e questões básicas, como saneamento e acesso à tecnologia e à conectividade, afetaram mais quem não tem acessos. A qualidade de vida, na minha opinião, é um direito de todos e reflete-se em muitos aspectos, como educação, trabalho, mobilidade, assim como espaços de qualidade, tanto públicos como privados, que cumprem as nossas necessidades quotidianas.

Não existe uma só resposta e, quando lidamos com as cidades, estamos a olhar para temas complexos impossíveis de resolver com uma só solução. No final, a cidade não é um elemento. A cidade são as pessoas, coletivos e indivíduos, e cada vez mais necessitamos de cooperação para que esses projetos sejam trabalhados em conjunto. As cidades somos nós, o que fazemos, pensamos e consumimos. É importante pensar na educação e na difusão dessas tecnologias para que elas sejam coerentes, de amplo acesso e justifiquem a sua implementação.

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Descrição: Trabalho selecionado para a exposição do Estúdio Vertical da Escola da Cidade sobre o conjunto histórico do Moinho Matarazzo em São Paulo.
As cidades são o resultado das nossas interações para produzir, criar e destruir.

7. Existe (ou deve existir) uma relação entre a sustentabilidade e as Smart Cities?

As Cidades Inteligentes são também aquelas que sabem utilizar os recursos de formas sustentáveis. Lido com negócios de todas as escalas que procuram propor soluções. Por um lado, cada vez mais, as áreas de inovação de grandes corporações procuram adoptar novas tecnologias para apresentar novos produtos, sendo complacentes com os temas de responsabilidade social e corporativa. Por outro lado, empresas novas, recém criadas, que apostam na tecnologia e na inovação, as chamadas startups, estão a arriscar com ideias menos comuns para mudar o status quo, radicalizando a visão de mundo que hoje temos, antecipando o que será a aplicação futura de diversas formas de inovação.

Olhando para o grande quadro, o conceito de Smart Cities agrega muitos tópicos que nos rodeiam e que estão diretamente relacionados com o meio ambiente. Afinal, as cidades são o resultado das nossas interações para produzir, criar e destruir.

Dentro de cada discussão dos temas urbanos, como mobilidade, energia e construção, consideramos inteligentes as soluções que otimizam recursos e promovem acesso antes inexistente aos serviços requisitados. Um comportamento insustentável não possui coerência com o sentido da palavra inteligência. O metabolismo e equilíbrio natural e social é fundamental para todos nós.

Hoje não se pode mais pensar no futuro sem considerar o meio ambiente e a sociedade, que deve sempre ser premissa para o sucesso a longo prazo de qualquer empresa, principalmente aquelas que atuam no setor das Smart Cities. Vemos diariamente que incluir estratégias de inovação e sustentabilidade não é uma opção. É uma necessidade.

8. Sendo natural do Brasil, como vê o desenvolvimento de uma Smart City na Europa em comparação com a América do Sul? Quais são os principais desafios?

Estamos a passar por um dos períodos mais difíceis da nossa história, e definitivamente o mais complexo para certas gerações. O Brasil está a presenciar um cenário extremo de irresponsabilidade e retrocesso, bem como a falta de preocupação com a vida humana, que infelizmente coincidiu com a pandemia. Muitas cidades latinoamericanas que já careciam de infraestrutura básica ficaram com problemas ainda mais complexos. Como podemos pensar em tecnologia se grande parte da população carece do principal, como o acesso à habitação, à água potável e à conexão?

Quando relacionamos as cidades latinoamericanas com as cidades europeias, as grandes diferenças são visíveis e correspondem à história do desenvolvimento de cada realidade, inclusivamente ao impacto do passado colonial, da escravidão e da dependência, que se reflete até hoje na ineficiência de infraestruturas e de políticas públicas, muitas vezes falhadas ou quase inexistentes.

Alguns problemas são globais, como a pobreza e a desigualdade, e outros dizem respeito a lugares com formas de organização e características específicas. O conceito de Smart Cities é amplo e abarca diferentes formas de aplicação de tecnologias nos espaços urbanos. Vemos diversas cidades que estão a apostar em muitas soluções e possuímos muitas chaves para que toda a região latinoamericana seja competitiva e possa aproveitar do desenvolvimento dessas novas tecnologias nas suas diversas escalas de forma sustentável, justa e inclusiva.

A América Latina possui muitos projetos de inovação, sejam eles vindos de empresas, startups, da academia ou dos movimentos sociais. Creio que existe muito valor no que se produz, e o mundo tem muito a aprender com a região, já reconhecida por liderar diversos setores.

9. Como crê que serão as cidades do futuro?

Vejo a possibilidade de muitos cenários distópicos, na radicalização das tecnologias que já são aplicadas para controlar com granularidade a população. Necessitamos de reconhecer o risco e trabalhar para que os projetos não resultem em fins contrários à liberdade do ser humano, à educação e à qualidade de vida, e é aí que está o verdadeiro desafio.

Ao trabalhar com inovação, estamos já a pensar no que serão soluções para as cidades do presente e do futuro. Projetar é idealizar o que está por vir, incluindo as etapas que necessitamos de percorrer para aplicar ideias à realidade.

Cada ideia de mudança é uma construção do amanhã e para chegar a soluções a longo prazo, que correspondam à visão que queremos, precisamos de trabalhar hoje. Investir é pensar no amanhã e necessitamos de investir em pessoas, na garantia do bem estar para a prosperidade e para a proteção do meio ambiente.

Paula Palermo - Analista de Investimentos em Smart Cities - Connecting Stories PARTTEAM & OEMKIOSKS
Descrição: “O futuro das coisas”, projeto de pesquisa especulativa realizado na Escola da Cidade sobre a interação da tecnologia com os seres humanos e as cidades. Paula Palermo teve o prazer de dividir essa experiência com a Marina Lickel e Bruna Giovannini.
A PARTTEAM & OEMKIOSKS é uma empresa que aposta numa área prioritária para as Smart Cities.

10. Sendo a PARTTEAM & OEMKIOSKS uma empresa que desenvolve e fabrica quiosques multimédia, equipamentos self-service, mupis digitais, mesas interactivas e outras soluções digitais para todo o tipo de indústrias e a nível internacional, de que forma é que estes equipamentos e a tecnologia no geral podem contribuir para o desenvolvimento das Cidades Inteligentes?

A interação entre as pessoas e a tecnologia é uma questão fundamental para as Smart Cities e essa é exatamente a área de trabalho da PARTTEAM & OEMKIOSKS. Os quiosques dinâmicos e as telas interativas e multifuncionais são equipamentos muito importantes para a aplicação de novas tecnologias nos espaços urbanos, para que possamos aproveitar, de forma ativa, os dados produzidos, otimizando sistemas, promovendo a informação e ampliando o acesso aos serviços.

Cada vez mais, as novas tecnologias de comunicação possibilitam o processamento de dados em live streaming que podem, por exemplo, exibir, através de objetos urbanos interativos, informações meteorológicas, de transporte, entre outros assuntos fundamentais para o funcionamento conectado nas cidades.

O que adianta apostar em complexas soluções sem poder entregá-las a quem as vai utilizar? A comunicação é fundamental e as cidades não poderão ser completamente inteligentes se não traduzirem as informações para a população de forma inteligente, fazendo chegar aos utilizadores finais o conteúdo que necessita de ser partilhado.

A PARTTEAM & OEMKIOSKS é uma empresa que aposta numa área prioritária para as Smart Cities e está a construir, juntamente com outras soluções, o futuro das nossas cidades.

Connecting Stories é um espaço editorial conduzido pela PARTTEAM & OEMKIOSKS que consiste na realização de entrevistas exclusivas, direccionadas a personalidades influentes, que actuam em diferentes sectores de actividade.

O projecto, idealizado pela PARTTEAM & OEMKIOSKS, contempla a publicação de histórias de sucesso, por meio de pequenas entrevistas a influenciadores que queiram compartilhar detalhes sobre os seus projectos, opiniões, planos para o futuro, entre outros assuntos.

A ideia é conectar histórias, partilhar conhecimento, desenvolver networking e gerar conteúdos que possam fornecer novas visões, oportunidades e ideias.

Sobre a PARTTEAM & OEMKIOSKS

Fundada em 2000, a PARTTEAM & OEMKIOSKS é uma empresa portuguesa de TI mundialmente reconhecida, fabricante de quiosques multimédia de interior e exterior, equipamentos self-service, mupis digitais, mesas interactivas e outras soluções digitais, para todos os tipos de sectores e indústrias. Para saber mais acerca da nossa história, clique aqui.

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