Marco Gouveia

1. O Marco Gouveia é Google Regional Trainer, Digital Board Advisor no Pestana Hotel Group e consultor e formador de Marketing Digital. Pode falar-nos um pouco sobre a sua jornada e experiência profissional?

Desde então, dedico todo o meu trabalho a esta área e, hoje, sou consultor e formador de Marketing Digital. Para além disso, sou, de facto, Digital Board Advisor do Pestana Hotel Group e formador do Atelier Digital Google, que já formou mais de 50 mil portugueses, para além de ser docente de Marketing Digital em várias universidades no país e co-autor do livro “Marketing Digital para Empresas”.

2. Como se gerem todas estas funções? Existe algum segredo?

É, sem dúvida alguma, um enorme desafio. O meu grande objectivo é e sempre foi conseguir dar o meu melhor em todas as frentes e, por mais que isso seja uma tarefa muito individual e pessoal, só se torna exequível devido às maravilhosas equipas de que me rodeio. Costumo aludir àquela máxima que diz que sozinhos podemos chegar mais depressa mas, juntos, chegamos mais longe, e acredito muito nisso. As pessoas que tenho escolhido para estarem ao meu lado nos meus projectos, ao longo do meu percurso, são os meus grandes pilares e nada seria possível sem a sua entrega e dedicação. E é claro que ter o privilégio de trabalhar naquilo que me apaixona ajuda imenso. Ter um propósito que nos faça acordar motivados – sendo o meu o de ajudar as pessoas através do Digital – e ver a diferença que podemos fazer na vida de alguém, por mais pequena que seja, faz qualquer cansaço e correria valerem a pena.

3. Como surgiu a paixão pelo Marketing Digital?

A história é bastante curiosa. Eu licenciei-me, para espanto de muitas pessoas, em Gestão de Recursos Humanos, e a verdade é que não me identifiquei com o curso. A dada altura, vi-me extremamente desmotivado e comecei, a título de curiosidade, a explorar a área do Digital. Os blogues estavam ainda a despontar no panorama do online e dei por mim a ficar muito intrigado com o modo como algumas páginas tinham anúncios. Procurei descobrir a lógica por detrás daquilo, entender como tudo funcionava e imergi de um só fôlego nesta área, criando o meu próprio blogue e explorando aquele universo ao máximo.

Daí para tudo o que se seguiu, o caminho foi muito orgânico e fluiu naturalmente. Descobri que era algo que adorava e através do qual poderia ajudar imenso as pessoas e os negócios, e nunca mais parei.

4. Criou, há mais de 16 anos, a sua própria marca de consultoria (Marco Gouveia - Digital Marketing Training & Consulting) e, mais recentemente, a agência Influenza. Como empreendedor, quais são os princípios desafios que tem encontrado?

A burocracia e formalidades necessárias são uma constante para quem é empreendedor e são, sem dúvida, dos aspectos menos entusiasmantes, porque não têm a ver com a idealização e criatividade relativos ao projecto em si; surgem sempre assuntos para tratar que nós nem fazíamos ideia serem necessários. Muitas vezes, nos começos, parece que estamos a navegar no vazio: tudo é novo – especialmente nesta área do Digital, que só agora parece estar a despertar de forma mais generalizada na consciência empresarial –, e o que pesa ainda mais é ser tudo, ainda assim, responsabilidade nossa.

Depois, algo inevitável e desafiante que também ocorre quando se empreende é a acumulação infindável de funções. Há muito em que pensar e, nos primeiros estágios do processo, pelo menos, as equipas ainda são muito reduzidas e o trabalho acaba por pesar mais. Estamos em constante verificação do que é viável ou não, do que pode ser mais relevante ou prejudicial para os clientes e para a marca, e é nesses momentos de maior pressão que um sentido de missão é essencial, para não desmotivarmos e mantermos o foco.

5. É, há mais de seis anos, Google Regional Trainer e foi, durante mais de nove, responsável de Marketing Digital no Pestana Hotel Group, onde hoje é Digital Board Advisor. Como surgiram estas oportunidades?

Felizmente, em ambos os casos, as oportunidades surgiram por convite. Estava nas Páginas Amarelas quando o telefone tocou com a oportunidade de ingressar no maior grupo hoteleiro português: o Pestana Hotel Group. Não me candidatei, o meu nome foi referenciado por um administrador e um director comercial das Pousadas de Portugal. Na altura, não contava com este convite e foi uma decisão desafiante porque semanas antes tinha renovado o contrato com as Páginas Amarelas, onde gostava de trabalhar, gostava do local de trabalho e dos meus colegas. No entanto, a oportunidade de ir trabalhar, pela primeira vez, numa multinacional portuguesa e com mercados internacionais, fizeram-me arriscar e, em boa hora, assim o fiz.

No caso da Google, a situação é ainda mais peculiar. Estavam incessantemente a ligar-me de um contacto espanhol. Como sou muito reticente no que diz respeito a chamadas internacionais, não atendia. Até que um dia, estava a trabalhar no Pestana e ligaram-me. Desta vez, o número, juntamente com o nome “Google”, apareceram no visor do telefone fixo do Pestana e aí, obviamente, atendi. Era o responsável pelo programa de formações da Google, que me convidara para ser Google Regional Trainer. Aceitei de imediato, fiz todos os testes solicitados e, meses, depois era formador da Google. Até hoje.

6. Como tem sentido a evolução do Marketing Digital ao longo dos anos?

No começo, e até há bem pouco tempo, ainda poucas empresas sabiam, sequer, o que era isto do Marketing Digital: fiavam-se unicamente nos seus moldes tradicionais. Ter um departamento de Marketing Digital nem sequer era equacionado no mundo empresarial, nem se pensava em investir grandes montantes nesta nova área. Contudo, mais recentemente, isso tem vindo a mudar (e ainda bem). Inclusive, o reconhecimento da relevância e incontornabilidade desta área também se estendeu ao próprio ensino superior, com cada vez mais universidades a oferecer propostas de cursos e especializações em Marketing Digital.

O número de profissionais a procurar a área, nas suas mais variadas vertentes, é crescente, e é claro que isso se torna positivo para os clientes, na medida em que a qualidade se torna um diferencial decisivo e têm um maior leque de opções a que recorrer. Tem sido, definitivamente, uma área muito estimulante, pela oportunidade de observar de perto esta evolução. O nível de consciência da importância do Marketing Digital em qualquer negócio (e da diferença que pode significar no desempenho do mesmo) tem crescido imenso na última década, e isso é fantástico, pois permite que as empresas se tornem mais fortes e munidas de ferramentas para prosperar num futuro cada vez mais digital.

7. Tendo em conta a sua vasta experiência na área do Marketing Digital, qual foi a melhor campanha que já desenvolveu?

A melhor campanha que já desenvolvi foi a minha primeira campanha e sem qualquer investimento. Quase sem conhecimento na área, consegui montar uma estratégia digital altamente rentável para o blogue dos “Morangos com Açúcar”, que incluía motores de pesquisa, fóruns e as “redes sociais” daquela altura, como o mIRC e o Hi5.

Outra das campanhas que fiz com uma elevada taxa de rentabilidade foi para um clube de futebol português, com o objectivo de vender relógios do clube. Um investimento inferior a mil euros, que deu um retorno superior a 300 mil euros.

Independentemente do retorno, o mais importante no desenvolvimento de qualquer campanha é a jornada e a aprendizagem. Procuro ao máximo não viver do passado e encontrar sempre melhores campanhas para os clientes e parceiros, juntamente com a minha equipa.

8. Perante a criação dos seus próprios negócios, como encara o empreendedorismo na actualidade?

Esta é uma questão interessante. Tenho sido apologista, desde o início da pandemia, que este pode ser um momento particularmente desafiante para empreender. A situação económica não é propriamente favorável, as prioridades e os hábitos de consumo da população estão em mutação acelerada, comparativamente com o que se verificava, por exemplo, no início do ano. Para além disso, imensa gente finalmente verificou que o Digital poderia ser a “bóia de salvamento” dos negócios que nele possuíssem uma presença forte ou que se adaptassem às circunstâncias, investindo nele, pelo que o número de novos negócios e iniciativas a surgir foi estonteante.

Não obstante, a história mostra-nos que períodos de crise são, também, com muita frequência, momentos cruciais de encorajamento (muitas vezes, obrigação, mesmo, por necessidade) à colocação em prática de projectos extremamente criativos, e com grande sucesso (mesmo nesta pandemia, belíssimas ideias de negócio já se concretizaram).

Creio que, acima de tudo, nesta fase, para além das considerações que se teria de tecer, à partida, ao colocar em hipótese investir num novo negócio, há que entender muito bem que estamos num contexto anómalo da nossa vida enquanto sociedade, e o que isso poderá significar para um qualquer negócio que decidamos tentar trazer à vida neste momento.

Também será relevante ressalvar que o empreendedorismo pode e deve existir mesmo numa empresa de que não sejamos detentores, através de criatividade e pensamento estratégico, para adaptá-la ao presente e ao futuro.

9. Como é que o Marketing Digital pode determinar o sucesso de uma empresa e/ou de uma marca?

O Marketing Digital é extremamente rico em possibilidades: pode marcar a diferença no sucesso de uma empresa e/ou uma marca pelos mais diversos motivos. Desde o SEO ao SEA, do e-mail marketing à gestão de plataformas de redes sociais, as oportunidades para impactar o(s) nosso(s) público(s)-alvo são imensas.

Uma das vantagens mais evidentes é sua mensurabilidade. Trata-se de algo passível de análise constante, onde podemos verificar, com dados que o fundamentem, o que resulta melhor ou pior (isto é, onde é mais frutífero investir, o que possui retorno ou nos dá prejuízo, quais os públicos a que nos devemos dirigir e de que forma – o que auxilia a compreender melhor o próprio negócio e a reconfigurar objectivos e práticas). Para além disso, é óbvio que é no Digital que as pessoas do século XXI estão, pelo que as empresas e marcas têm de estar também – para estarem precisamente onde os seus clientes e potenciais clientes se encontram.

10. Qual é o futuro do Marketing Digital? É uma área em crescimento?

Já não creio, muito honestamente, ser possível retornar a um modelo de Marketing “à antiga”, que não vise a esfera digital. Como referi anteriormente, há cada vez mais estudantes e profissionais a especializarem-se e a aprender sobre Marketing Digital – o que, por si só, consubstancia a sua expansão enquanto área profissional, mesmo a nível reputacional. Isso, bem como a adaptação a que tenho assistido nas empresas para que faço consultoria, faz-me acreditar piamente na ideia de que se tornará, cada vez mais, uma área tão incontornável para as empresas como a financeira ou a de recursos humanos, por exemplo. É realmente merecedora da atenção das empresas. Por outro lado, é uma área que está em permanente transformação, sendo bastante exigente também pela necessidade de actualização constante de quem nela trabalha. Nos últimos anos e ainda no presente, o Marketing de Conteúdo – e, por conseguinte, a relevância do SEO – tem crescido de modo estonteante, por exemplo, mesmo quando imensas pessoas tinham anunciado a morte do SEO, previamente; os influenciadores também vieram mudar os paradigmas de consumo da sociedade e os próprios planos de marketing de muitas marcas.

A verdade é que ninguém pode adivinhar o que está por vir, mas o marketing de vídeo e as plataformas de redes sociais estão a crescer visivelmente, antecipando-se uma continuação dessa tendência no futuro próximo. Importa, sobretudo, estarmos atentos ao presente, fazendo desta nova área uma aliada para o crescimento dos nossos negócios e da nossa própria experiência pessoal no Digital.

11. Sendo a PARTTEAM & OEMKIOSKS líder no desenvolvimento de mupis digitais e quiosques multimédia para o mercado internacional, qual a sua opinião sobre a PARTTEAM & OEMKIOSKS, os seus produtos e a sua estratégia de marketing digital?

Acredito que a PARTTEAM & OEMKIOSKS, conciliando offline e online, esteja a tirar o melhor partido destes dois mundos (prova disso são os inúmeros casos de sucesso que constam do vosso portefólio). Isto porque, embora a realidade actual esteja cada vez mais marcada pelo digital, é importante manter uma visão de marketing no sentido holístico.

Como disse, embora já não acredite ser possível retornar a um modelo de Marketing “à antiga”, os meios tradicionais ainda são muito valorizados, logo, a estratégia deverá passar pela integração entre o offline e o online. Apesar de parecer, talvez, um contra-senso, face às recentes evoluções tecnológicas, aquilo a que eu e a minha equipa nos propomos, em 2021, é a demonstrar como tal é possível.